quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

leituras

Estou a reler Um homem não chora de Sttau Monteiro. Estou, mais uma vez, a ter um prazer "do caraças".

Excerto

Sr Pomposo - Peço-lhe o especial favor de se não usar de palavras estrangeiras. Considero tal hábito pernicioso, inútil e, acima de tudo, antipatriótico. Uma pessoa esclarecida como V.Exª. deve auxiliar-me nesta minha campanha em favor do aportuguesamento da língua.

Eu, feito homem da gravata às riscas - If you say so. Agarro no braço da Fernanda e afasto-me do grupo. [...]

Felizmente o elevador chegou ao fim da viagem. Saímos todos para a rua. Um "chaufeur" bem fardado abre a porta do carro do Sr.Pomposo e este pergunta se nos pode ser útil ou se desejamos que nos leve de carro a qualquer sítio.

- Por amor de Deus, meu amigo. Moramos aqui mesmo. De qualquer forma nunca entro num automóvel.
- Porquê?
- Porque o automóvel não é uma invenção portuguesa. Trata-se dum autêntico estrangeirismo. Pessoalmente sou pelos meios de transporte tradicionais portugueses: a mula, o coche e a cadeirinha. V.Exª., que é uma pessoa esclarecida, devia auxiliar-me na minha campanha pelo aportuguesamento dos meios de transporte, pelo regresso às velhas tradições que tão bem serviram os nossos avós. Não acha?

O tipo olha para mim sem dizer nada. Depois, sem um comentário, sorri para a Fernanda, vira-me as costas e entra no carro.

Fiz mal. Não devia ter dito isto. [...]

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